A vida era dura, as coisas difíceis e tudo era conquistado através de muito esforço. Esse mesmo cara sempre pensou que, como seu pai o ensinou, o homem tem deveres irrefutáveis, intransferíveis e que precisam ser cumpridos, caso contrário o fracasso seria eminente.
Um belo dia esse homem se deparou com um menino em seu caminho e que lhe mostrou, sem muitas palavras, que o sentido de ser homem era muito maior e amplo do que o seu pai lhe ensinara.
Ele caminhava após um dia intenso de trabalho e estava retornando para casa a pé quando encontrou esse jovem na rua, sozinho e meio sem rumo. Consciente de suas atribuições quanto homem ele prontamente se voltou para perguntar se estava tudo bem e daí em diante a história desses dois jamais se separaria.
Ao responder o homem o menino deixou algumas lagrimas escorrerem pelo seu rosto e com uma vozinha de criança embargada o menino o respondeu:
- Sim, está tudo bem.
Vendo que o jovem não estava realmente bem o convidou para tomar um suco em uma lanchonete logo a frente para tentar acalmá-lo. Depois da segunda golada, e sem pressionar um diálogo, o menino colocou o copo na mesa e começou a falar:
- Bem moço, primeiramente eu queria agradecer esse suco pois é o primeiro alimento que eu tenho à dois dias. Eu me chamo André e tenho 11 anos, tenho 2 irmãos menores e moro com meus pais. Meu pai está desempregado pois foi mandado embora da empresa pela qual ele dedicou uma vida inteira, até mesmo nos trocando por ela nos finais de semana e feriados.
Atento, o homem continuou ouvindo sem falar nada...
- Sempre fomos uma família feliz e unida. Nunca tivemos nada de riqueza mas com o pouco sabíamos tirar proveito para que vivêssemos bem. O patrão do meu pai disse pra ele que ele já estava ficando velho e que precisaria de alguém mais novo para a função e mandou ele pra casa. Isso está fazendo 1 ano e de lá pra cá meu pai só sabe beber, bater em nós e na minha mãe e isso me deixa muito triste.
Impressionado com a postura do menino o homem resolve interromper e exclama:
- Mas isso não pode! Temos que ir na delegacia, dar parte do seu pai e...
Nesse momento o menino grita um forte não e começa a chorar ainda mais:
- Não, não é isso. Meu pai não é um marginal, um bandido ou um bêbado. Meu pai simplesmente perdeu as forças, perdeu o chão que tinha e tudo o que eu mais quero é poder ajudar. Eu fugi de casa tem dois dias e estou buscando uma oportunidade de trabalho para tentar ajudar meu pai e minha família mas ninguém me escuta, muitos riem de mim, outros me dão umas moedas e me mandam embora.
Ainda indignado o homem retruca:
- Mas mesmo assim seu pai não pode bater em vocês, isso não é certo.
Mas o menino responde:
- Sim, eu sofro, dói tanto o corpo quando ele me bate como a alma quando vejo meus irmãozinhos e minha mãe apanhando, mas eu sei que atrás daquele monstro que aparece está o meu pai, aquele que me dava carinho, me amava, jogava bola comigo, brincava e sorria. Eu digo para o senhor que a maior dor que eu tenho nesses momentos não é por mim mas por ele, por saber que ele não é assim, que aquilo ali não é ele, e pior, por não ter condições de fazer nada.
E continuou:
- O senhor, como homem, como se sentiria nessa situação, vendo o seu pai sofrer, fazendo você sofrer e tendo a certeza de que a culpa não era de nenhum dos dois?
Nesse momento, o homem já sem palavras abaixou a cabeça por alguns segundos e ao levantar, com os olhos cheios de lágrimas respondeu:
- André, você é muito especial. Eu sempre vivi minha vida com os ensinamentos que meu pai me passou. Ele faleceu tem 2 anos e eu estava longe, conquistando o mundo e sem tempo para visitá-lo. Eu tenho uma filha e uma esposa a qual já fiz sofrer de um modo diferente mas que hoje estamos bem, porém, continuo sem tempo. Continuo lutando como fui ensinado e como acho que um homem deve proceder na vida. Hoje você me ensinou que o homem não é aquilo que ele produz, pois isso pode se perder, mas sim aquilo que ele é como pessoa. Seu pai infelizmente está passando por uma fase difícil e perdeu um pouco do controle sobre a vida dele e sobre seus limites, mas realmente, atrás desse atual homem que vive em sua casa está o seu pai e você o ama tanto a ponto de fugir de casa para tentar ajudar. Eu sou dono de um pequeno negócio e eu quero saber onde você mora, pois estou precisando de um ajudante e acho que posso ajudar você, só que com uma condição.
O menino já com um olhar atento e mais feliz perguntou:
- Qual condição tio?
E o homem respondeu:
- Vou te levar para casa pois seus pais devem estar preocupados com você, para conhecer aonde você mora e para falar com o seu pai. Ok?
Em um simples ato de uma criança agradecida o menino abraçou aquele desconhecido que parou para ajudá-lo e disse a frase que aquele homem jamais esqueceu:
- Tio, fique feliz pois o senhor é sim um homem de verdade, muitos passaram por mim como eu disse e debocharam, sem sequer saber da minha história, e você foi diferente, você me ouviu. Seu pai deve estar muito orgulhoso e alegre de que ele te ensinou direitinho a ser homem!
Moral da história: Homem de verdade não é o mais bem sucedido, não é aquele que faz e acontece, que sai para beber com os amigos, que pega todas... Homem de verdade é aquele que sabe a sua missão, que entende que é igual e que se permite estar atento para todas as necessidades à sua volta. Ser homem de verdade é ajudar quem precisa, sem intenção de barganha e certo de que sua atitude foi honrosa, assim, nossos pais também ficarão orgulhosos de nós!
Comentários
Postar um comentário